Jornalista Pádua Marques |
Na minha infância ouvi muito de homens e até mulheres, pessoas mais velhas, quando queriam ofender um negro usarem da expressão de que nossa raça quando não fazia “necessidade” na entrada era certeza que fizesse na saída. Como homem educado e civilizado que sempre fui, eu aqui vou me reservar o direito de não retribuir na mesma moeda ao não traduzir a palavra, mas que já se deve imaginar o que significava. Mas significa, pras gerações mais modernas, dizer que os negros pela origem servil, ignorante e humilhante da senzala, quando por alguma situação alcançavam condição relevante daí poderia se esperar pra mais um pouco alguma resposta negativa e vergonhosa no desempenho.
Isso, na mentalidade deles, daqueles homens e mulheres antes de nós, significava dizer que dada à condição de origem os negros eram irresponsáveis, malandros, preguiçosos, ladrões e outros tantos defeitos que não se achava conveniente dar ou abrir qualquer oportunidade pra eles. Quem se misturava com negros certamente já estava sabendo obter resultados infames pra dentro de sua casa.
Relembro essa situação coincidente com o Dia da Consciência Negra, comemorado dia 20. Naquele tempo os homens que detinham algum poder pelo conhecimento ou pela posse de alguma coisa, os ricos, eram mesmo assim muito grosseiros. Eram homens ainda, como se diz hoje, que traziam o ranço do mando pela força. E esse ranço ainda perdurou por algumas gerações. Pra nossa felicidade este tempo de vergonha e humilhação acabou. Hoje os homens são mais refinados e têm bons costumes, são mais urbanos. E essa urbanidade obrigou os homens a serem mais educados e se respeitarem.
Bem que nós negros poderíamos retaliar hoje na mesma moeda. Mas desta vez com os políticos, aqueles que estão deixando o poder depois de terem sido derrotados nas urnas ou abandonando a vida pública após anos e mais anos mandando e desmandando. Políticos que antes, obedecendo a uma imposição de herança de nome e sobrenome estão agora mais perto da aposentadoria. Políticos que não fizeram nada pelo povo ao qual juraram defender com o cuidado de autoridade. Porque nesse exato momento estamos observando é a herança que muitos governadores estarão deixando pra seus sucessores senão uma tremenda dor de cabeça materializada em dívidas, obras inacabadas, contratos duvidosos e outros tantos empecilhos.
Na política brasileira essa situação de troca de poder é considerada natural. Feito o camarada que pede seu automóvel emprestado e ao trazer de volta devolve com defeito. Feito o camarada que deixa o capacho de sua casa sujo de lama pra quando alguém entrar acabe deixando imundo todo o tapete por onde vai estar pisando. Ou pior ainda, muitas das vezes, colocando todo o cisco debaixo dele. Um dia quando a empregada se dispuser a passar uma vassoura vai certamente encontrar muita coisa escondida e muitas até de difícil ou impossível remoção. Portanto esse termo “necessidade” bem que se aplica aos políticos que perdendo eleição ou fugindo da vida pública agora acham de sujar a confiança dos seus eleitores.